Todos
aqueles que já conhecem ao Senhor Jesus como Salvador se identificam com o cego
de nascença de João 9, pelo fato de terem sido também libertados das trevas.
Mas há nesta passagem alguns detalhes que revelam ter ela uma aplicação mais
ampla e de grande significado para os dias em que vivemos.
Encontramos
o cego curado pelo Senhor, mas o povo não consegue entender como aquilo havia
acontecido. Certamente os sábios fariseus teriam uma explicação para aquilo.
Mas não têm. Os líderes religiosos não conseguem entender como Alguém, que não
fazia parte do clero, e que "não guarda o sábado" (Jo 9:16), podia
ter feito tal coisa fora do sistema religioso que eles tanto prezavam. O que
fora cego, a princípio, também não entende muita coisa, mas de uma coisa ele tem
certeza: ele era cego, mas agora vê. Seus pais, por prezarem mais a religião
exterior do que a verdadeira obra que Deus estava fazendo, não querem se
indispor com os sacerdotes e fariseus. Afinal, é preferível ficar do lado do
sistema religioso oficial, reconhecido por toda a sociedade, do que dar um
testemunho comprometedor. Quem iria querer ser discípulo dAquele pobre filho de
carpinteiro que diziam ser o Messias? Com todas as vantagens que o convívio
social e religioso lhes oferecia, não poderiam nem pensar na possibilidade de
serem expulsos da sinagoga.
E assim,
ignorado por sua família e rejeitado pela religião de seus pais, o que era cego
acaba sendo expulso pelos líderes religiosos. Dizem-lhe eles: "Tu és
nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós?" (Jo 9:34). Todavia o veneno
nas palavras dos fariseus indica também o antídoto: somente aquele que tomou
consciência de sua natureza pecaminosa, está apto a aprender de Deus. O
apóstolo Paulo, que fora mestre em Israel, considerou como lixo toda a bagagem
religiosa que trazia (Fp 3). Ele entendeu que, dentre os pecadores, ele era o
principal (1 Tm 1:15).
O cego já
está curado; pode enxergar perfeitamente a luz. Mas é só depois de deixar para
trás todo o sistema religioso de sua época - depois de ser expulso até - que
ele passa a conhecer melhor Aquele que o havia curado. "Jesus ouviu que o
tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus? Ele
respondeu, e disse: Quem é Ele, Senhor, para que nEle creia? E Jesus lhe disse:
Tu já O tens visto, e é Aquele que fala contigo. Ele disse: Creio, Senhor. E O
adorou" (Jo 9:35-38). Uma adoração completa não teria sido possível
enquanto ele fosse cego, figura do estado em que nos encontrávamos quando ainda
incrédulos. Mas também, mesmo depois de ver, ele continuava em um sistema
religioso de homens que, embora zelosos de Deus e portadores das Escrituras,
não reconheciam plenamente os direitos e reivindicações de Cristo. Foi preciso
que saísse, ou fosse expulso, para conhecer melhor o Filho de Deus. O Senhor
Jesus estava fora, e é nesse lugar de rejeição que Ele vai encontrar o que fora
cego. O Senhor sabia que o tinham expulsado, e sabia também que ele havia
permanecido numa posição de corajosa fé diante dos líderes religiosos, não
temendo as conseqüências. Prostrando-se aos pés de Jesus, ele O adora, numa
atitude que (qualquer menino judeu sabia disso) era reservada exclusivamente a
Deus (compare com Atos 10:25-26). Certamente ele acabara recebendo uma medida
especial de revelação.
Quão
precioso é estar na posição daquele que fora cego poder adorar ao Senhor fora
de tudo o que é do homem e, mesmo diante da incompreensão e ataques recebidos,
poder permanecer firme junto a Cristo, professando: Eu era cego e agora vejo!
Mario.
Persona