Ao encontrarem o cego
de nascença, os discípulos de Jesus tentam descobrir a causa do problema, e
erram ao levantarem apenas duas possibilidades. Eles perguntam: "Mestre,
quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?".
A origem de um rio é
sua nascente, mas a razão de ele correr neste, e não naquele lugar, depende de
vários fatores. É simples entender que a origem de todo o sofrimento é o pecado
que arruinou a criação, mas não é tão simples assim descobrir por que um sofre
e outro não.
Apesar de existirem
problemas que são um resultado direto de nossos erros, como bater no poste por
dirigir embriagado, é preciso cautela antes de culpar alguém por algum defeito,
doença ou desgraça. Ao encontrarmos uma pessoa que sofre, costumamos agir como
os três amigos que visitaram Jó em sua tribulação: eles estavam indo muito bem
até decidirem abrir a boca.
A interpretação que os
três amigos dão para a desgraça de Jó no livro de mesmo nome não representa a
sabedoria de Deus, e sim a sabedoria humana. Em 1 Coríntios diz que o mundo não
conheceu a Deus pela sabedoria humana, portanto o método usado por Elifaz,
Bildade e Sofar não serve para discernir a razão do sofrimento de alguém.
Elifaz fala da
experiência própria e individual. Ele diz no capítulo 4 do livro de Jó:
"Conforme tenho visto...". Bildade, o outro amigo, apela para a
tradição. No capítulo 8 ele diz: "Pergunte às gerações anteriores e veja o
que os seus pais aprenderam". No capítulo 11 é a vez de Sofar apresentar
seu argumento religioso e legalista. Segundo ele, se Jó consagrar seu coração a
Deus e parar de pecar, tudo irá bem.
Somos assim: julgamos
as pessoas pela nossa experiência, pelas nossas tradições e pela religião, e
deduzimos que, se alguém sofre, é por ter falhado em algum destes pontos. É
claro que esse tipo de julgamento também me faz sentir superior à pessoa que
sofre, e minha mensagem acabará sendo: Seja como eu e você não irá sofrer. Mas,
parafraseando José no livro de Gênesis, "estaria eu no lugar de
Deus?".
Paulo, na carta aos
Romanos, diz: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da
ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os
seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor?". Pois é, nem
eu nem você somos capazes de entender os motivos e razões de Deus. O melhor é
não sairmos por aí dando o nosso veredito para a razão do sofrimento de cada
um.
Quando os discípulos
perguntam se o cego nasceu assim por causa de algum pecado dele ou de seus
pais, Jesus responde: "Nem ele pecou nem seus pais". Então por que
ele nasceu cego? A resposta está na
próxima postagem.