III. A ORDEM DA CASA DE DEUS
(Capítulos II e III)
Nesta divisão da Epístola, o
apóstolo demonstra o caráter da Casa de Deus (2:1-4); o testemunho da graça de
Deus que deve fluir da Casa (2:5-7); a conduta própria de homens e mulheres que
formam a Casa (2:8-15); as qualificações necessárias a quem exerce ofício na
Casa (3:1-13); e finalmente o mistério da piedade (3:14-16).
(a) A Casa de Deus, uma casa de oração para todas as nações.
(Capítulo I vs.1-4). (Is.
16:7; Mc. 11:17)
(v.1) A Casa de Deus é
caracterizada como um lugar de oração. As petições que sobem a Deus da Sua Casa
devem ser marcadas por deprecação ou súplicas sinceras por uma necessidade
especial surgida em circunstâncias particulares; por meio de “orações” as quais
expressam desejos gerais apropriados para todos os tempos; pelas “intercessões”
implicando em que os crentes estejam em proximidade de Deus podendo pedir em
nome dos outros; e finalmente, por “ações de graça” o que fala de um coração
consciente da bondade de Deus, que tem prazer em responder as orações do Seu
povo.
Na Epístola aos Efésios, que
apresenta a verdade da Igreja no seu chamamento celestial, somos exortados a
orar com súplicas por “todos os santos” (Ef. 6:18). Aqui, onde a Igreja é vista como um vaso de
testemunho da graça de Deus, temos de orar com súplicas “por todos os homens”.
(v. 2) Somos especialmente
chamados a orar por reis e todos que têm autoridade – aqueles que estão em
posição de influenciar o mundo para o bem ou para o mal. Não é apenas “para o
rei” ou “nosso rei” que temos de orar, mas “pelos reis”. Isto presume que temos
consciência da nossa ligação com o povo de Deus em todo o mundo como formando
parte da Casa de Deus, e a verdadeira posição da Igreja estando em santa
separação do mundo, não tomando parte em políticas ou governos. No mundo, mas
não do mundo, a Igreja tem o alto privilégio de orar, interceder e dar graças
em nome daqueles que não oram por si mesmos.
O Apóstolo dá duas razões
para as orações por todos os homens. Primeiro é trazido o orar pelos reis e
todos em autoridade, tendo em vista o povo de Deus em todo o mundo. Temos de
buscar que a soberana bondade de Deus possa então controlar a regras deste
mundo para que Seu povo possa levar "uma vida quieta e sossegada em toda a
piedade e honestidade”. É evidentemente a mente de Deus que Seu povo pudesse,
atravessando este mundo hostil, levar uma vida quieta, não afirmando a si
mesmos como se fossem cidadãos deste mundo, em tranquilidade, abstendo-se em
tomar parte das disputas do mundo, em “piedade” que reconhece Deus em todas as
circunstâncias da vida, e em prática seriedade diante dos homens. No velho testamento o profeta Jeremias enviou
uma carta ao povo cativo na Babilônia, exortando-os a buscarem a paz da cidade
na qual eles haviam sido presos em cativeiros, orando ao Senhor por isso:
porque diz o profeta, “na sua paz vós tereis paz” (Jr. 29:7). No mesmo espírito
temos de buscar a paz do mundo, a fim de que o povo de Deus tenha paz.
(vs.3,4) Então uma segunda
razão é dada para as orações do povo de Deus em nome de todos os homens. Orar
por todos os homens é “bom e agradável, diante de Deus, nosso Salvador; que
quer que todos os homens se salvem”. Não
temos de orar em vista apenas do bem de todos os santos, mas também em vista da
benção de todos os homens.
O mundo pode algumas vezes
perseguir o povo de Deus e procurar desafogar sobre eles todo o ódio do seu
coração para com Deus. A menos que andemos em julgamento próprio, este
tratamento estimularia a carne para ressentimento e retaliação. Aqui nós
aprendemos que é “bom e agradável diante de Deus” agir e sentir com respeito a
todos os homens, como Deus mesmo faz, em amor e graça. Então temos de orar “por
todos os homens”, não apenas por aqueles que governam bem, mas também por
aqueles que usam o povo de Deus de maneira caluniosa (Lc. 6:28). Temos de orar,
não para que se faça julgamento em retribuição para vencer os perseguidores do
povo de Deus, mas para que na soberana graça eles possam ser salvos.
(b) A Casa de Deus, uma testemunha da graça de Deus (vs.5-7)
A Casa de Deus não é apenas
para ser um lugar de onde as orações ascendem a Deus, mas também um lugar do
qual um testemunho flui para o homem. No tempo devido Deus vai tratar em juízo
com o perverso e mesmo agora pode tratar em governo com aqueles que se colocam em oposição a
graça de Deus e os ministros da Sua graça, como na matança de Herodes e a
cegueira que veio sobre Elimas (Atos 12:23; 13:6-11). Além disso, Deus pode, em
ocasiões solenes, lidar em juízo governamental com aqueles que formam a Casa de
Deus, para a manutenção da santidade da Sua casa, como ocorrido no terrível
juízo que alcançou Ananias e Safira; e mais tarde, o trato governamental pelo
qual alguns na Assembleia dos Coríntios foram levados em juízo (morreram) (Atos
5:1-10; 1 Co. 11:30-32). Tais casos, no entanto, são resultado do trato direto
de Deus. A Casa de Deus como tal, deve ser um testemunho de Deus como um Deus
Salvador, Que deseja que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da
verdade.
A “vontade” de Deus nesta
passagem não tem referência aos conselhos de Deus os quais serão certamente
cumpridos na maioria. Ela expressa a disposição de Deus para com todos. Deus
apresenta-se a Si mesmo como um Deus Salvador que está desejoso que todo homem
possa ser salvo. Mas, se os homens serão salvos, isso só pode ser por meio da
fé que reconhece “a verdade”. Sobre essa “verdade” a Casa de Deus é a “coluna e
firmeza” (3:15). Enquanto a Assembleia estiver na terra, ela é a testemunha e
suporte da verdade. Quando a Igreja for arrebatada, os homens cairão de uma vez
na apostasia e serão entregues a um forte engano.
(v.5) Duas grandes verdades
são trazidas diante de nós como o terreno em que Deus lida com os homens em
soberana graça. Primeiro, há um só Deus; segundo, há um só Mediador.
Que há apenas um Deus foi
completamente declarado antes de Cristo vir. A unidade de Deus foi o grande
fundamento da verdade do Velho Testamento. Era o grande testemunho a Israel,
como lemos: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt. 6:4). Era
o grande testemunho que tinha de fluir às nações de Israel como lemos: “Todas
as nações se congreguem, e os povos se reúnam... Apresentem as suas
testemunhas, para que se justifiquem, e se ouça, e se diga: Verdade é. Vós sois
as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o
saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim Deus
nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de
mim não há Salvador” (Is. 43:9-11).
A cristandade enquanto
mantendo totalmente a grande verdade de que há um só Deus, apresenta também a
verdade igualmente importante de que há um só Mediador entre Deus e os
homens. Esta última verdade é a verdade
característica do Cristianismo.
Três grandes verdades são
apresentadas caracterizando o Mediador. Primeiro, Ele é um. Se Deus é um, é igualmente importante
lembrar-se da unidade do Mediador. Há um só Mediador e não há outro. O papado e
outros sistemas religiosos corruptos da Cristandade negaram esta grande verdade
e depreciaram a glória de um só Mediador,
estabelecendo Maria e outros homens e mulheres canonizados como mediadores.
Segundo, o Único Mediador é
um Homem, a fim de que Deus possa ser conhecido pelos homens. Os homens não
podem ascender a Deus; mas Deus em Seu amor, pode descer ao homem. Alguém
disse: “Ele desceu ao mais profundo abismo a fim de que não houvesse ninguém,
nem mesmo o mais miserável, que não pudesse sentir que Deus em sua bondade
estava perto dele – que desceu até ele – Seu amor encontrando ocasião na
miséria; e que não havia nenhuma necessidade em que Ele não pudesse estar
presente e a qual Ele não pudesse
satisfazer ” (J.N.D.).
(vs.6,7) Terceiro, este
Mediador deu-Se a Si mesmo como resgate por todos. Se Deus tem de ser
proclamado como um Deus Salvador, que quer que todos os homens se salvem, Sua
santidade deve ser vindicada e Sua glória mantida. Isto tem sido perfeitamente
cumprido pela obra propiciatória de Cristo. A majestade de Deus, justiça, amor,
verdade, e tudo que Ele é, tem sido
glorificado na obra feita por Cristo. Ele é a propiciação para todo o
mundo. Tudo que era necessário foi feito. Seu sangue está disponível para o
mais vil, seja quem for, uma vez que o evangelho ao mundo diz: “quem quiser,
venha”. Neste aspecto podemos dizer que Cristo morreu por todos, deu-Se a Si
mesmo como resgate por todos; um sacrifício disponível para o pecado, para quem
quer que venha.
Essas são as grandes
verdades a serem testificadas no devido tempo – a graça de Deus proclamando
perdão e salvação a todos no terreno da obra de Cristo, que se deu a Si mesmo
como resgate por todos. Quando Cristo ascendeu para a glória, e o Espírito
Santo desceu à terra para habitar no meio dos crentes, assim formando-os a Casa
de Deus, o tempo devido veio. Daquela Casa o testemunho devia fluir, o Apóstolo
sendo usado por Deus para pregar a graça e assim abrir a porta da fé aos
Gentios (Atos 14:27). Ele pode então falar de si mesmo como um pregador, um
apóstolo, e um mestre dos Gentios na fé e na verdade.
(c) A conduta adequada para os
homens e mulheres que formam a Casa
(vs.8-15) Vimos na parte
inicial do capítulo que a casa de Deus é o lugar de oração “para todos os
homens” (v.1); o testemunho da disposição de Deus em graça para com “todos os
homens” (v.4); e o testemunho de quem deu-se a Si mesmo como resgate “por
todos” (v.6).
Se tal é o grande propósito
da Casa de Deus, segue-se que nada deve ser permitido na Casa de Deus que
arruíne este testemunho tanto da parte dos homens como das mulheres que formam
a Casa. Então o Apóstolo passa a dar instruções detalhadas sobre o
comportamento de cada classe. Este testemunho da graça de Deus não contempla um
número de crentes, interessados em um testemunho particular, unindo-se para um
serviço. Não é um bando de evangelistas entregando-se ao trabalho do evangelho
ou serviço missionário. Ele apresenta todos os santos partilhando de um
interesse comum no testemunho que flui da Casa de Deus.
(v.8) Em primeiro lugar, o
Apóstolo fala dos homens em contraste com as mulheres. Os homens na Casa de
Deus devem ser marcados pela oração. O Apóstolo está falando de oração pública
e em tais ocasiões, a atribuição para orar é restrita aos homens. Além disso, a
instrução não contém nenhum pensamento de uma classe oficial dirigindo a
oração. Orar em público não está limitado aos anciãos, ou a homens com dom,
porque orar nunca é tratado na Escritura como uma questão de dom. São os homens
quem oram e a única restrição é que uma condição moral correta deve ser
mantida. Aqueles que dirigem oração em público devem ser marcados pela santidade
e suas orações devem ser sem ira nem contenda. O homem que está consciente de
um mal não julgado em sua vida, não está em condições de orar. Além disso, a
oração é para ser sem ira. Esta é uma exortação que condena totalmente o uso da
oração para fazer ataques velados a outros. Por trás dessas orações sempre há
ira ou malícia. Além disso, a oração é para ser em simplicidade da fé e não com
um vão discurso humano.
(v.9) As mulheres devem ser
marcadas por “comportamento e vestido decentes”. Esta tradução claramente
indica que não somente no vestir, mas no seu comportamento em geral as mulheres
devem ser marcadas pela modéstia que evita toda impropriedade; e “discrição”
que faz com que cuide nas suas palavras e maneiras. Elas devem se guardar de
usar o cabelo que Deus deu para glória da mulher, como uma expressão da vaidade
natural do coração humano. As mulheres não devem procurar chamar atenção sobre
si mesmas, ataviando-se com “ouro ou pérolas ou vestidos dispendiosos”. Novamente, as mulheres fazem bem ao se
lembrar de que devem obedecer a essa passagem da Escritura e não perder esse
espírito por se apegar a algo insignificante, desse modo atraindo atenção sobre
si mesmas.
A mulher professando o temor
de Deus será marcada não pela simulação de superior espiritualidade, mas por
“boas obras”. Seu lugar no Cristianismo é gracioso e bonito: é encontrado
naquelas “boas obras”, muitas das quais podem somente ser feitas por uma
mulher.
Vemos nos evangelhos como as
mulheres ministraram a Cristo com aquilo que possuíam (Lc. 8:3). Maria fez uma
boa obra ao Senhor quando ungiu Sua cabeça com o precioso unguento (Mt.
26:7-10). Dorcas fez uma boa obra quando fez roupas aos pobres (Atos 9:39).
Maria, a mãe de João Marcos abriu sua casa para muitos se reunirem em oração
(Atos 12:12). Lídia, a quem o Senhor abriu o coração, fez uma boa obra quando
abriu sua casa aos servos do Senhor (Atos 16:14-15). Priscila fez uma boa obra
quando, com seu marido, ajudou Apolo a conhecer “mais precisamente o caminho de
Deus” (Atos 18:26). Febe, de Cencréia, foi “ajudadora de muitos”. Outras partes da Escritura nos relatam que
mulheres piedosas podem lavar os pés dos santos, aliviar o aflito, educar
crianças e guiar a casa. Aqui lemos que em público a mulher deve aprender em
silêncio. Ela não deve usurpar a autoridade sobre o homem.
O Apóstolo dá duas razões
para a sujeição da mulher ao homem. Em primeiro, Adão tem lugar proeminente,
visto que foi formado primeiro, depois Eva. A segunda razão é que Adão não foi
enganado; a mulher foi. Num certo sentido, Adão foi pior que a mulher porque
pecou conscientemente. Apesar disso, a verdade reclamada pelo Apóstolo é que a
mulher mostrou sua fraqueza naquilo que ela foi enganada. Adão realmente
deveria ter mantido sua autoridade e levado a mulher em obediência. Ela, na
fraqueza, foi enganada, usurpando o lugar da autoridade e levou o homem à
desobediência. A mulher cristã reconhece isso e é cuidadosa em manter o lugar
de sujeição e silêncio.
(v.15) Eva sofreu por sua
transgressão, mas a mulher Cristã encontrará misericórdia de Deus abundando sobre
o juízo governamental, se o homem casado e a mulher continuam em fé e amor e
santidade, com discrição. Como vimos antes, a continuidade na sã doutrina é
largamente dependente de uma correta condição moral (1:5-6); assim vemos agora
que misericórdia temporal está conectada com um estado espiritual correto.
(d) A supervisão na Casa de
Deus (3:1-13)
(v.1) O Apóstolo falou da
posição relativa dos homens e mulheres e a conduta adequada a eles na Casa de
Deus. Isto prepara o caminho para a instrução quanto à vigilância na Igreja de
Deus. O Apóstolo diz, “Se alguém deseja exercer vigilância, deseja um bom
trabalho” (N.Tn.).
No discurso do Apóstolo aos
anciãos de Éfeso, três coisas são trazidas diante de nós caracterizando a
supervisão. Primeiro, os bispos que supervisionam devem ser vigilantes em
relação a si mesmos e a todo o rebanho. Eles devem buscar que seu próprio
caminhar e o caminhar do povo de Deus, possam ser dignos do Senhor. Segundo,
eles têm de “alimentar a Igreja de Deus”. Eles pensam, não apenas no andar
prático do povo de Deus, mas devem buscar o bem-estar das suas almas, para que
possam entrar em seus privilégios cristãos e fazer progressos da alma na
verdade. Terceiro, eles devem “zelar” pelo rebanho para que ele possa ser
preservado dos ataques do inimigo de fora, assim como das corrupções que possam
surgir dentro do círculo cristão por
meio de homens perversos que desviam almas do Senhor para si mesmos (Atos
20:28-31).
Tal era o trabalho da
supervisão, e o Apóstolo fala disso como “um bom trabalho”. Há o testemunho da
graça de Deus que deve fluir da Casa de Deus, e o Apóstolo já havia falado
desse “bom e aceitável diante de Deus”. Existe também o cuidado para com
aqueles que compõem a Casa de Deus, que seu andar deve estar adequado à Casa, e
este cuidado para com as almas é também
“um bom trabalho”.
É importante lembrar que o
Apóstolo não está falando de “dons”, mas de ofício local para o cuidado da
Assembleia. A cristandade tem confundido dons com ofícios ou cargos. Na
Escritura eles são bem distintos. Os dons são dados pelo Cabeça que ascendeu e
são “postos” na Igreja (Ef.4:8-11; 1 Co.12:28). O exercício do dom não pode
então ser limitado à assembleia local. O ofício de bispo que supervisiona é
puramente local.
Além disso, não há nada nas
instruções para ordenação de indivíduos para esses ofícios. Timóteo e Tito
podem ter sido autorizados pelo Apóstolo para ordenar (ou estabelecer) anciãos
(Tt.1:5), mas não há instruções para que anciãos indiquem anciãos ou a
Assembleia para escolher anciãos.
O fato de que esses servos
foram autorizados pelo Apóstolo para estabelecer anciãos prova claramente que,
nos dias do Apóstolo havia Assembleias nas quais não havia bispos supervisores
apontados. Eles não tinham anciãos apontados por ausência de autoridade apostólica
(direta ou indireta) para apontá-los. É evidente então, pela Escritura, que não
pode haver anciãos oficialmente indicados exceto por um apóstolo ou seus
delegados. Parece então que para o homem apontar anciãos ou ordenar ministros é
agir sem a permissão da Escritura.
Isso não implica que o
trabalho de bispo que supervisiona não possa ser feito, ou que não há aqueles
aptos para o trabalho em dias de ruína. O trabalho de bispo que supervisiona
nunca foi tão necessário quanto hoje, e aqueles que estão, conforme a
Escritura, qualificados para o trabalho podem em simplicidade servir ao povo do
Senhor em sua própria localidade; e é bom para nós reconhecermos o tal, tendo
sempre em mente a força exata das palavras do Apóstolo quando diz, “Se alguém
deseja o episcopado, deseja um bom trabalho”. O apóstolo não fala de um homem
desejando “ofício” a fim de possuir uma posição ou exercer autoridade, mas do
desejo de exercer este “bom trabalho”. A carne gosta de ofício, e posição, e
autoridade, mas isso evitará “trabalho”.
Quando isso é visto, temos de admitir que há poucos que têm o desejo
contemplado pelo Apóstolo.
(vs.2,3) As qualidades que
deveriam marcar esses tais são claramente colocadas diante de nós; e como
alguém disse, “As instruções mesmo para anciãos e diáconos não são, por assim
dizer, meramente para seu próprio interesse; eles nos mostram o caráter que
Deus valoriza e procura em Seu povo.” (F.W.G).
O caráter moral do ancião
deve estar acima de reprovação. Ele deve ser marido de uma esposa, uma qualificação
que teria uma aplicação especial àqueles emergindo do paganismo com sua
poligamia. Um homem convertido, embora não fosse rejeitado por ter mais de uma
esposa, não estaria adequado para supervisionar. Além disso, um tal tinha de
ser sóbrio em julgamento, discreto em suas palavras, decoroso no comportamento,
hospitaleiro. Ele deveria ser apto a ensinar, não necessariamente implicando
que ele teria dom de mestre, mas que ele tinha aptidão para ajudar outros em
seus exercícios espirituais. Ele não deveria ser uma pessoa dada ao excesso de
vinho ou violento; ao contrário, ele deveria ser manso, evitando contendas e
livre de cobiça.
(vs.4,5) Além disso, ele
deve ser aquele que governa bem a sua casa, tendo seus filhos em sujeição,
exortações que claramente indica que o bispo que supervisiona deveria ser um
ancião, que não apenas é casado e possui um lar, mas que também tem filhos.
(v.6) Ele não deveria ser um
neófito. Um jovem cristão pode ser usado pelo Senhor para pregar a outros assim
que se converte, mas para tal tomar o lugar de um bispo que supervisiona seria
obviamente errado, e provavelmente o levaria a cair na condenação do diabo. O
erro do diabo, alguém verdadeiramente disse, que “ele exaltou-se a si mesmo com
o pensamento de sua própria importância” (J.N.D.).
(v.7) Finalmente, o bispo
que supervisiona deve ter um bom testemunho diante dos de fora, de outro modo,
ele vai cair em reprovação e no laço do diabo. O laço do inimigo é apanhar o
crente numa armadilha em conduta questionável diante do mundo, assim ele não
pode mais tratar entre os santos com uma conduta questionável.
(v.8) O Apóstolo dá mais
adiante as qualificações necessárias aos diáconos. O diácono é um ministro, ou
aquele que serve. De Atos 6 aprendemos que este trabalho especial é descrito
como “servindo às mesas” e como conexão mostra que isto refere-se a satisfazer
as necessidades corporais e temporais da assembleia, em contraste com o
trabalho do bispo que supervisiona que é mais especialmente concernente em
atender às necessidades espirituais. Apesar disso, não deixa de ser necessário
que o diácono tenha qualificações espirituais. Aqueles escolhidos para o
trabalho de diáconos na Igreja primitiva em Jerusalém tinham de ser “homens de
boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Atos 6:3). Aqui
aprendemos que, assim como os bispos que supervisionam, eles tinham de ser
sérios, não de duas palavras, não dados ao excesso de vinho ou à cobiça.
(v.9) Além disso, eles
tinham de ser marcados por “guardar o mistério da fé em uma consciência pura”.
Guardar uma correta doutrina não é suficiente. Ortodoxia sem uma pura
consciência indica quão pouco a verdade tem poder sobre quem a possui,
portanto, quão impotente tal seria para influenciar outros.
(v.10) Além disso, os
diáconos devem ser aqueles que foram testados e provados pela experiência para
serem irrepreensíveis em sua própria conduta e então capazes de lidar com
questões que devido à necessidade, viriam diante deles no seu serviço.
(vs.11,12) Suas esposas
também tinham de ser sérias, não difamadoras e fiéis em todas as coisas. O
caráter delas é especialmente referenciado na medida em que o serviço dos
diáconos, tendo em haver com necessidades temporais, pudesse dar ocasião para
as esposas cometerem maldades, a menos que fossem “fiéis em todas as coisas”.
Assim como os bispos que supervisionam, os diáconos tinham de ser marido de uma
só esposa, governando bem seus filhos e suas casas. Novamente, estas exortações
implicam que o diácono não é um homem jovem, mas casado e tem filhos, e assim
um homem com experiência.
(v.13) No caso pode-se
pensar que o ofício do diácono era inferior ao do bispo que supervisiona, mas o
Apóstolo especialmente declara que aqueles que usam o ofício de diácono,
obterão para si mesmos uma boa posição, e muita ousadia na fé a qual é em
Cristo Jesus; a verdade, assim como é frequentemente apontada, notavelmente
ilustrada na história de Estevão (Atos 6:1-5; 8-15).
(e) O Mistério da Piedade
(vs. 14-16)
(vs.14,15) O apóstolo
encerra esta parte de sua Epístola, declarando definitivamente que a razão para
escrever “essas coisas” é que Timóteo pudesse saber como alguém deve se
comportar na Casa de Deus.
É-nos dito que a Casa de
Deus é “a Assembleia do Deus vivo”. Não é mais um templo feito de pedras, como
nos dias do Antigo Testamento, mas um grupo de pedras vivas – crentes. É
formada por todos os crentes vivendo na terra em qualquer momento. Nenhuma
Assembleia local é jamais chamada de A Casa de Deus.
Além disso, é a Assembleia
do Deus vivo. O Deus que habita no meio do Seu povo não é como os ídolos mortos
que os homens adoram que não podem ver nem ouvir. Que nosso Deus é vivo é uma
verdade abençoada, de solene importância, mas podemos esquecer facilmente. Mais
tarde o Apóstolo pode dizer-nos que nós podemos ”ser afligidos e sofrer
reprovação, porque esperamos no Deus vivo” (4:10). O Deus vivo é um Deus que se
deleita em cuidar e abençoar Seu povo; contudo, se a santidade que forma a Sua
casa não é mantida, Deus pode fazer manifesto que Ele é o Deus vivo em
tratamento governamental solene como com Ananias e Safira, que experimentaram a
verdade das palavras “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.¨(Hb. 10:31).
Além disso, aprendemos que a
Casa de Deus é a coluna e o fundamento da verdade. A “coluna” apresenta a ideia
do testemunho; o “fundamento” é o que o suporta. Não foi dito que a Casa de
Deus seja a verdade, mas a “coluna” ou testemunho da verdade. Cristo na terra
foi “a verdade” (Jo. 14:6); e novamente lemos, “Tua palavra é a verdade” (Jo.
17:17). Apesar de que a Assembleia possa ter falhado muito em suas
responsabilidades, o fato é que, como estabelecida por Deus na terra, é o
testemunho e suporte da verdade. Deus não tem outro testemunho na terra. Em
dias de ruína, podem ser uns poucos fracos que manterão a verdade, enquanto a
grande massa professante, falhando em ser testemunho, será vomitada da boca de
Cristo.
É importante lembrar que não
é dito que é para a Assembleia ensinar a verdade, mas ser testemunha da verdade
que já se encontra na Palavra de Deus. Nem pode a Assembleia reclamar
autoridade para decidir o que é verdade. A palavra é a verdade e carrega sua
própria autoridade.
(v.16) Como a Assembleia é a
Casa de Deus – do Deus vivo – e a testemunha e fundamento da verdade, como é
importante que saibamos como nos comportar na Casa de Deus. Em vista de um
comportamento piedoso o Apóstolo diz “o mistério da piedade” ou o segredo do
comportamento correto. Alguém escreveu sobre essa passagem: “Isto é
frequentemente citado e interpretado como se falasse do mistério da divindade,
ou o mistério da Pessoa de Cristo; mas é o segredo da piedade, ou o segredo
pelo qual toda a real piedade é produzida – a fonte divina de tudo o que se
pode chamar de piedade no homem” (J.N.D). Este mistério da piedade é o que é
conhecido por piedade, mas não manifestado ainda ao mundo. O segredo da piedade
está no conhecimento de Deus manifestado através e na Pessoa de Cristo. Assim
nesta maravilhosa passagem temos Cristo apresentado, fazendo Deus conhecido aos
homens e anjos. Em Cristo, Deus foi manifestado em carne. A santidade absoluta
de Cristo foi vista em que Ele foi justificado no Espírito. Nós somos
justificados na morte de Cristo: Ele foi selado e ungido completamente separado
da morte – a prova de Sua santidade que lhe é própria. Então, em Cristo, como Homem, Deus foi visto
pelos anjos. Em Cristo, Deus foi conhecido e crido no mundo. Finalmente, o
coração de Deus é conhecido pela presente posição de Cristo na glória.
Tudo isso é dito como
“mistério da piedade”, porque essas coisas não são conhecidas por um incrédulo.
Tal, na verdade, pode apreciar externamente a conduta que flui da piedade; mas
o incrédulo não pode saber a fonte secreta da piedade. Esse segredo é conhecido
somente pelos piedosos; e o segredo está no conhecimento de Deus; e o
conhecimento de Deus foi revelado a eles em Cristo.
Por Hamilton Smith
Tradução:
Rosimeri F. Martins (Curitiba), revisão Batista (Limeira).
Texto
original: http://www.stempublishing.com/authors/smith/1TIMOTHY.html