A
expressão Pai Celestial é frequentemente usada pelos cristãos se
dirigindo a Deus em oração. Eles estão convencidos de que esta é
a maneira que nós temos de nos dirigir a Deus, porque o Senhor
ensinou aos seus discípulos a orarem dessa maneira e Ele mesmo falou
de Deus como Seu Pai Celestial (ou dos céus).
É
realmente verdade que o Senhor ensinou seus discípulos a se
dirigirem a Deus em oração como “Nosso Pai que estás nos céus”,
a referirem-se a Ele como “o Pai celestial” deles (Mat. 6:9, 14
etc.).
Isto foi
porque, naquele tempo, os seus discípulos eram um grupo terrenal de
crentes, tendo promessas e esperanças terrenas, e o destino deles
era viver na terra o reino que Deus prometeu estabelecer – se a
nação o recebesse como Seu messias. Eles eram discípulos judeus
esperando por um Messias Judeu para ser recebido pela nação de
judeus. Os discípulos não eram cristãos naqueles dias, embora eles
tenham nascido de novo crentes no Senhor Jesus. Desde que suas vidas
e esperanças eram terrenas, era realmente próprio para eles se
dirigirem a Deus, quem estava nos céus, como Seu “Pai Celestial”.
É significativo que esta expressão é encontrada somente nos
evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), os quais apresentam
um Messias judeu com seus discípulos judeus. Não é encontrado no
Evangelho de João onde o desabrochar do cristianismo é enfatizado.
A expressão não é usada no livro de Atos, nem é usada nas
epístolas onde temos o cristianismo revelado.
Como nós
sabemos o cristianismo não começou até que o Senhor ressurgisse de
entre os mortos e voltasse aos céus, e de lá, enviasse o Espírito
Santo. A revelação cristã da verdade é revelada nas epístolas
onde aprendemos que nossa posição diante de Deus, nossas bênçãos,
nossas esperanças em Cristo e o nosso destino, são todos
celestiais. Então, em contraste com Israel, cristãos são um grupo
celestial de pessoas.
Nossa
posição diante de Deus é aquela sentada em lugares celestiais em
Cristo Jesus (Ef. 2:6).
Nós
estamos diante de Deus no próprio local de aceitação no qual o
Filho, Ele mesmo está (Ef. 1:6). Então, uma vez que este é nosso
lugar na imediata presença de Deus (Ef. 2:18; Heb. 10:19), nós não
temos necessidade de nos dirigirmos a Ele como nosso “Pai
Celestial”, como se fôssemos crentes terrenais esperando pelo
estabelecimento do seu reino.
O termo
denota distância entre os céus e terra, existente entre os crentes
e Deus, o que não é verdade para nós na nossa posição de
cristãos. Além disso, chamar Deus de “nosso Pai Celestial” não
é a maneira cristã de se dirigir a Deus. A maneira cristã é
simplesmente dizer “Pai” – como visto através das epístolas.
Assim, se
dirigir a Deus como nosso Pai “Celestial” é confundir nossa
posição cristã. É realmente a negação prática de onde estamos
diante de Deus, embora, logicamente, aqueles que falam desta maneira
não tenham a intenção de negar esta verdade. O pensar que as
formas judaicas de expressão são as maneiras cristãs de falar com
Deus tem suas raízes na Teologia Reformada (Teologia do Pacto). Tal
ensinamento vê Israel como a Igreja no Antigo Testamento e a Igreja
como sendo Israel no Novo – assim misturando (fundindo) todos os
crentes em um povo de Deus, sem distinção. Consequentemente aqueles
que adotam tais doutrinas, não têm escrúpulos em tomar o que é
dito aos Israelitas no Antigo Testamento e usar como se tais
ensinamentos tivessem sido escritos para a Igreja.
A questão
a seguir foi submetida ao editor da revista Scripture Truth: Os
cristãos devem se dirigir a Deus como “Pai Celestial”? Resposta:
Cristãos podem se dirigir a Deus em oração como “Pai Celestial”,
mas ao fazê-lo eles falam a Ele à luz da revelação feita aos
discípulos antes da cruz, onde eles estavam ainda, como um
remanescente fiel de Israel ao redor do Seu Messias, e não à luz da
revelação a qual é distintamente distintivamente cristã.
Dirigir-se
a Deus desta maneira denotaria alguma falta de entendimento desse
relacionamento próximo que os cristãos têm agora estando
identificados com o Cristo ressuscitado como Homem na presença do
Pai (Scripture Truth, vol. 14, p. 287).
Um artigo
num periódico, Young Christian, diz: Nós precisamos novamente notar
a diferente posição deles (os discípulos) da nossa. Eles tiveram
um chamado terrenal, então foram ensinados a orar “Nosso Pai que
estás nos céus”, “Pai Celestial”, ou “Pai que estás nos
céus”. Mas tais não são usadas depois da redenção realizada.
Nós
cristãos, temos um chamado celestial, somos “abençoados com todas
as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef.
1:3); nós somos também selados com o Espírito Santo e dizemos,
“Pai” numa proximidade de relacionamento com Ele (Rom. 8:15, 26;
Gal. 4:6). – (Young Christian, vol. 2 Scripture Study: Mat. 6).
Um artigo
na revista Bible Herald diz: Nós achamos esta parte do Evangelho de
João (caps. 13-17) especialmente brilhante com a repetição
frequente da palavra “Pai”. O Senhor está introduzindo “os
Seus” ao Pai que os deu a Ele; e no capítulo 17 Ele se dirige ao
Pai sobre eles, encomendando-os aos cuidados do Pai, uma vez que Ele
não pode mais permanecer com eles para protege-los debaixo das Suas
asas protetoras.
Quando é
o Filho e o Pai, Ele simplesmente diz “Pai”. Quando Ele encomenda
os discípulos a Ele (ao Pai) no meio do mal Ele diz “Pai Santo”,
e quando Ele lança um olhar sobre o mundo que O rejeitou – e odiou
ambos, a Ele e ao Pai – Ele diz “Pai Justo, o mundo não Te
conheceu, mas eu Te conheci”. Por que não dizer “Pai Celestial”
aqui? Porque o Evangelho de João Ele é o Filho Unigênito, que está
no seio do Pai: consequentemente Ele poderia dizer, como encarnado,
“O Filho do Homem que está no céu”. É o Filho e o Pai em João;
em Mateus é Jeová e Jesus apresentando-se como Messias, de acordo
com as profecias do Antigo Testamento tendo nascido Rei dos Judeus em
Belém. No meio do povo da terra de Israel, Ele diz, “Meu Pai, que
estás nos céus”, “Meu Pai Celestial”, “Toda planta que meu
Pai Celestial não plantou será arrancada (Mat. 15:13)”.
Aqui nós
temos distância e terra como Sua esfera – a terra de Israel –
Tudo tão diferente de “O Filho do Homem que está no céu” em
João. Nós não permanecemos na posição Judaica de servos, Filho e
sujeito - à distância; mas nós crentes no Filho, “já pelo
sangue de Cristo chegastes perto” (Ef. 2:13) – por Ele “ambos
temos acesso ao Pai por um Espírito” (Ef. 2:18).
Nós
temos agora a mesma posição, como temos a mesma natureza, como o
Filho glorificado de Deus e Ele ascendeu para Seu Deus e Pai, e pela
graça, nós que cremos nEle somos apresentados a Deus nosso Pai em
Cristo, onde Ele está nos lugares celestiais.
Então, o
estar em relação consciente com o Pai, o Espírito de adoção nos
dando o sentido do Seu amor e nossa proximidade com Ele, estando na
luz, como Ele está na luz, em comunhão com o Pai e Seu Filho Jesus
Cristo, nós não dizemos “Pai Celestial”, mas simplesmente “Abba
Pai”, por estarmos no gozo da relação filial e estando no
Espírito e fé “nos lugares celestiais em Cristo”, nós estamos
onde o Pai está... Na presença do nosso Deus e Pai em Cristo, nós
não poderíamos dizer “Pai celestial”, como se houvesse toda a
distância entre terra e céus entre nós. Meus filhos, não se
dirijam a mim como distantes, mas simplesmente digam “Pai”, para
aqueles que estão comigo sob o mesmo teto na mesma cidade; mas se
eles estiverem numa terra estrangeira, não seria impróprio para
algum deles escrever e usar o nome da cidade em conexão com a
palavra “pai” (The Bible Herald, vol. 5, pp. 101-103).
Daí, as
instruções do Senhor sobre as esperanças terrenas dos Judeus fiéis
e sua maneira própria de se dirigirem a Deus como Seu Pai Celestial,
não é exemplo para nós que somos cristãos, que temos uma
diferente e próxima relação com o Pai. O hino que tem aquela frase
“Ó Pai Celestial, conceda-nos a todos a simplicidade de um bebe
recém-nascido (#223 L.F.) poderia ter uma escolha melhor de
palavras, na nossa opinião.
Tradução: Paulo Martins | Revisão: Rosimeri Martins
Extraído
do livro "UNSOUND DOCTRINAL STATEMENTS & CLICHÉS (Commonly
Accepted as Truth)" - Bruce Anstey - Páginas
148 a 151 - Theology
= Addressing God The Father