Você já começou a
conversar com alguém e depois descobriu que falavam de assuntos diferentes?
Isto ocorre por usarmos palavras com significados diferentes para diferentes
pessoas. Se você pedir uma receita à cozinheira, ela pensará em comida, mas se
pedir ao médico ele pensará em medicamento. Se o macaco de seu carro tiver
problemas, não peça a opinião de seu amigo veterinário. Vá direto a um mecânico
ou loja de autopeças. Portanto, ao ler a Bíblia, procure saber o contexto para
não entender errado o que está sendo falado.
A primeira edição da
Bíblia em inglês, publicada em 1535 por iniciativa do Rei Tiago da Inglaterra,
ou “King James”, trazia um prefácio de Miles Coverdale que dizia: “Será de
grande auxílio para entenderes as Escrituras se atentares, não apenas para o que
é dito ou escrito, mas de quem e para quem, com que palavras, em que época,
onde, com que intenção, em quais circunstâncias, e considerando o que vem antes
e o que vem depois”.
Este cuidado deve ser
aplicado na pergunta que o homem faz a Jesus: “Senhor, serão poucos os
salvos?”. Para os judeus, “salvação” costumava representar a libertação das
mãos dos inimigos para habitar em paz na terra prometida sob o reino do
Messias. Você não encontra no Antigo Testamento o conceito celestial de
salvação. A esperança de Israel era na terra, não no céu, e para o cristão os
exemplos de salvação do Antigo Testamento servem como sombras e figuras das
coisas celestiais, pois a esperança da igreja é celestial, não terrena.
Portanto, a pergunta
deste judeu pode muito bem ser traduzida assim: “Senhor, serão poucos os que
sobreviverão para entrar no Reino?”. Jesus diz: “Esforcem-se para entrar pela
porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não
conseguirão” (Lc 13:24). Considerando que o Reino em seu estado atual é uma
mistura de joio e trigo, apenas os esforçados conseguem suportar a oposição.
Para estes a porta é estreita por causa das dificuldades, mas volto a dizer que
a resposta de Jesus não está se referindo à salvação da alma e à entrada no
céu.
Se você entender que
para um judeu é isto que significa “salvação”, entenderá também que muitos
erram ao interpretar como salvação eterna passagens como Mateus 24, que diz que
“aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24:13). O trecho fala claramente
de sobrevivência, de estar vivo por ocasião do estabelecimento do Reino do
Messias na terra. Por isso naquele capítulo é explicado que “se aqueles dias
não fossem abreviados, ninguém sobreviveria”, ou “seria salvo”, como dizem
outras versões (Mt 13:22).
Fonte: parte do texto de
Mário Persona | http://www.3minutos.net/2013/11/508-contexto.html