domingo, 19 de março de 2017

I Timóteo - Um Resumo Expositivo - H. Smith - Parte II

II. O MANDAMENTO E SUA FINALIDADE
(Capítulo I)

A Epístola se inicia insistindo nas doutrinas da graça (v.3), bem como a correta condição espiritual (v.5), a fim de que o povo de Deus possa ser uma testemunha de Deus como o Salvador.

(a) A saudação (vs. 1,2)

(v.1) Tendo em vista a Casa de Deus como uma testemunha do Deus Salvador, o Apóstolo se apresenta como um Apóstolo de Jesus Cristo, segundo o mandado de Deus nosso Salvador e Jesus Cristo, esperança nossa. Então ele apresenta Deus como o Salvador do mundo e Cristo como a única esperança da alma. Separados de Cristo estamos sem esperança (Ef. 2:12; Rm. 15:12).

(v.2) Referindo-se a Timóteo, como seu próprio filho na fé, o Apóstolo deseja a ele graça, misericórdia e paz; mas, pensando nele como um crente, agora ele diz de “Deus nosso Pai” e Cristo Jesus “nosso Senhor”.

(b) O mandamento e sua finalidade (vs. 3-5)

Após a saudação, o Apóstolo imediatamente apresenta o propósito especial pelo qual ele escreve a Timóteo. Em primeiro lugar ele escreve para insistir na apresentação da doutrina da graça; segundo, ele exorta à correta condição espiritual a fim de ser uma verdadeira testemunha da graça.

(v. 3) Em relação à doutrina, pode pensar-se que, uma vez que o Apóstolo trabalhou em Éfeso por dois anos e três meses, e declarou aos santos todos os conselhos de Deus, era pequeno o perigo de que falsas doutrinas fossem ensinadas no meio deles. Não foi assim, entretanto, porque o apóstolo percebeu que havia “alguns” que estavam prontos a ensinar “outras doutrinas” mesmo entre aqueles que tiveram maior luz. O orgulho natural do coração pode pensar que muita luz é proteção contra o erro. Isso é bom para aprendermos, pelo exemplo da Assembleia de Eféso, que o fato de um grupo ter sido enriquecido com a verdade, e desfrutado do mais alto ministério, não é garantia contra falsa doutrina. Timóteo então tinha de cobrar de alguns que eles não ensinassem outra doutrina senão a grande doutrina da graça de Deus.

(v.4) Abandonando a verdade nos tornamos ocupados com fábulas e intermináveis genealogias que podem apelar à razão, mas apenas ocupam a mente com questões e não conduzem à edificação divina a qual é na fé.  “Genealogias intermináveis” são prazer para a mente natural assim como para a carne religiosa, pois elas calam Deus e fazem muito do homem. “Intermináveis genealogias” supõem que todas as bênçãos são um processo de desenvolvimento passado de uma geração a outra. Por esta razão, os judeus religiosos deram grande importância a sua genealogia. Então, também o homem do mundo, com sua ciência, falsamente assim chamada, procura calar a fé num Criador com teorias especulativas que veem tudo na criação como um desenvolvimento gradual e genealógico, de uma coisa à outra.  As especulações humanas, apelando para a razão, podem apenas levantar “questões” as quais deixam a alma na escuridão e dúvida. A verdade divina, apelando para a consciência e fé, pode sozinha oferecer certeza e edificação divinas.

(v.5) Havendo avisado contra falsa doutrina, o Apóstolo passa a falar da finalidade do mandamento.  A finalidade que ele tem em vista é a correta condição espiritual a qual sozinha nos capacita a manter a verdade e escapar do erro. Somente seremos mantidos quando guardamos a verdade em conjunção com “amor de um coração puro, uma boa consciência e de uma fé não fingida”. A sã doutrina só pode ser mantida com uma correta condição moral.

Questões especulativas podem ser levantadas e discutidas pela mente humana apartada de uma correta condição moral da alma, pois deixam a consciência e afetos intocados, e, portanto não levam a alma à presença de Deus. Em contraste à especulação do homem, a verdade de Deus só pode ser aprendida pela fé. Agindo sobre a consciência e coração, a verdade leva ao fortalecimento da relação moral da alma com Deus. Assim a verdade edifica conduzindo ao amor de um puro coração, uma boa consciência e a uma fé não fingida. A grande finalidade do mandamento aos crentes de Éfeso foi exortar a esses resultados práticos. O mandamento não foi fazer um grande trabalho ou fazer um grande sacrifício. Não era “fazer” grandes coisas diante dos homens, mas “estar” numa condição correta diante de Deus. Amor no coração, “uma boa consciência” e “uma fé não fingida” são qualidades que somente Deus pode ver, embora outros possam ver o efeito que produzem na vida.

Assim, nesses versículos iniciais, o Apóstolo nos apresenta o mandamento de não ensinarmos outras doutrinas que não as doutrinas da graça e a necessidade de uma correta condição espiritual a fim de manter a verdade e sermos preservados do erro.

(c) Advertências contra a negligência ao mandamento (vs. 6,7)

(vs.6,7) Tendo insistido conosco da profunda importância da correta condição espiritual, o Apóstolo, antes de continuar sua instrução, nos adverte, em parênteses, contra o solene resultado da falta dessas qualidades morais.

Havia alguns no círculo Cristão que tinham perdido essas grandes qualidades espirituais do Cristianismo. Tendo-as perdido, afastaram-se da verdade para o discurso vão. O Cristianismo, baseado na graça de Deus, leva a alma em coração e consciência à presença de Deus. Quando essa graça é “perdida”, a carne religiosa se desvia para vãs palavras, levando os homens a se tornarem “professores da lei”. Tais nem percebem o que contém seu falso ensino, nem entendem o real uso da lei que eles tenazmente afirmam.

Que solene condenação é o aviso do Apóstolo sobre a maior parte dos ensinamentos que fluem dos púlpitos da Cristandade. Tendo perdido a verdadeira graça do Cristianismo e seus efeitos, a profissão Cristã desviou-se para um discurso vão e ensino da lei, resultando que o puro evangelho da graça de Deus é raramente proclamado.

(d) O uso correto da lei e a superioridade da graça (vs. 8-17).

(v.8) O Apóstolo igualmente condena aqueles que se se desviam para fábulas da imaginação humana e aqueles que desejam ser mestres da lei. Contudo, há uma grande diferença entre fábulas humanas a lei divinamente dada. Assim, mesmo enquanto condena os mestres da lei, o Apóstolo é cuidadoso em manter a santidade da lei.  As fábulas são totalmente más, mas a lei é boa se usada legitimamente.

(vs.9-11) O Apóstolo prossegue a explicar o correto uso da lei. Ele afirma que a lei não foi feita para um homem justo. Não é nem um meio para abençoar um pecador, nem uma regra de vida para o crente. Seu uso legítimo é para convencer os pecadores dos seus pecados, testemunhando com o santo julgamento de Deus contra todo tipo de pecado.

Além disso, os pecados enumerados pelo Apóstolo, como de fato todos os outros pecados, não são somente condenados pela lei, mas são contrários à “sã doutrina” do Evangelho da glória de Deus. A lei está, a esse respeito, inteiramente de acordo com o evangelho. Ambos testemunham a santidade de Deus e por esta razão ambos são intolerantes ao pecado.

Contudo, as boas novas da glória de Deus, nas bênçãos proclamadas ao homem, ultrapassam qualquer bem que a lei possa realizar. O evangelho, confiado ao Apóstolo, revela a graça de Deus que pode abençoar o pior dos pecadores.

(v.12) Isto leva o Apóstolo a declarar a graça das boas novas como ilustrado na sua própria história. Graça soberana não apenas salvou o Apóstolo, mas tendo assim feito, o teve por fiel e o apontou para o ministério da verdade.

(v.13) Para mostrar a insuperável grandeza dessa graça, o Apóstolo menciona seu caráter quando homem não convertido. Naqueles dias ele foi “um blasfemo e perseguidor e um insolente homem dominador”. Ele não apenas se uniu ao Sumo Sacerdote Judeu resistindo ao Espírito Santo em Jerusalém, mas ele era seu agente ativo em levar esta oposição a cidades estrangeiras.  Ele blasfemou o Nome de Cristo, perseguiu os santos de Cristo e, sendo zeloso da lei, era insolentemente dominador na sua atitude para com a graça.

Este era o homem em quem Deus se agradou em demonstrar Sua misericórdia (v.13), Sua graça (v.14) e Sua longanimidade (v.16). Como um indivíduo ele foi objeto da misericórdia de Deus porque, apesar de sua intensa oposição a Cristo, ele havia agido na ignorância e descrença. Era tão ignorante da verdade e de Cristo, que pensou sinceramente estar fazendo o serviço de Deus tentando erradicar com o Nome de Cristo. Ele não era como um que, tendo se familiarizado com a verdade do evangelho, propositada e deliberadamente se opõe e a rejeita.

 (v.14) Assim, na misericórdia de Deus, a graça do nosso Senhor lhe foi revelada, como aquela que “foi além superando” acima de todos os seus pecados. A descoberta do pecado do seu coração, e a graça do coração de Cristo a tal pecador, veio acompanhada de “fé e amor”, que tinha seu objetivo em Cristo.

(vs.15,16) Tendo sido abençoado, o Apóstolo se torna um mensageiro da graça de Deus a um mundo de pecadores, e um modelo àqueles que viriam a crer em Cristo para a vida eterna.

(v.17) A narrativa dessa graça que vai além leva o Apóstolo a romper em louvor ao “Rei dos séculos, incorruptível, invisível, único Deus”. A Ele renderia “honra e glória pelos séculos dos séculos”. Paulo, enquanto zeloso pela lei, era simplesmente um homem no presente século, buscando manter a era da lei. Deus é o “Rei dos séculos” que está agindo em soberana graça para Sua própria glória através dos séculos dos séculos.

(e) O mandamento especial a Timóteo

Tendo mostrado o correto uso da lei e o caráter superabundante da graça, o Apóstolo retoma a linha do seu discurso iniciado no versículo 5.

(vs.18-20) A Timóteo, seu filho ele encomenda este mandamento do qual ele já falou nos versos 3 e 5. Timóteo tinha de agir com toda a autoridade conferida pelo Apóstolo, conforme as profecias para os serviços que haviam sido definidos para ele.  Levar adiante este serviço envolveria batalhas. Este conflito para ser bem sucedido requereria que a fé fosse persistentemente mantida. Fé nesta passagem é como alguém disse, “a doutrina do Cristianismo... a qual  Deus revelou, recebida com segurança tal, como a verdade” (J.N.D). 

Além disso, a verdade deve ser mantida com uma boa consciência, de forma que a alma é mantida em comunhão com Deus. Quão frequentemente as heresias nas quais os crentes caem, têm suas raízes secretas em algum pecado tolerado  ou não julgado, os quais corrompem a consciência, roubam a alma da comunhão com Deus e  a deixam uma presa às influências de Satanás.

Alguns realmente, nos dias do Apóstolo, abandonaram a boa consciência e então caíram em erros que fizeram naufrágio da fé. Dois homens são citados, Himeneu e Alexandre, que ouviram a Satanás e pronunciaram blasfêmias. Pelo poder apostólico eles foram entregues a Satanás. Dentro da Casa de Deus havia a proteção do Espírito Santo. Fora da Assembleia há o mundo sob o poder de Satanás. A esses homens foi permitido ficarem sob o poder de Satanás, para que através do sofrimento e angústia da alma, eles pudessem aprender o verdadeiro caráter da carne e voltar para Deus em humildade e quebrantamento de espírito.

Por Hamilton Smith

Tradução: Rosimeri F. Martins (Curitiba), revisão Batista (Limeira).

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